6 princípios para deixar de ser trouxa
Regras simples para navegar no mundo dos investimentos
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Faz alguns dias, me perguntaram no Instagram quais eram os princípios que eu seguia para construir meu patrimônio e juntar dinheiro no longo prazo.
Na ocasião, fiz uma resposta simples explicando que não eram regras escritas em algum lugar, que estava apenas organizando algumas ideias meio espaçadas que carrego comigo.
Como o resultado ficou bem interessante, resolvi trazer essa resposta um pouco mais trabalhada por aqui.
Antes de falar sobre finanças e sugerir, de alguma forma, como as pessoas devem olhar para o pouco dinheiro que possuem, é necessário lembrar que não existe regra universal.
Nada do que está escrito aqui foi inventado por mim. São questões amplamente discutidas pela psicologia e economia, mas que se perderam no mar de conteúdo produzido por coaches de finanças.
É importante entender que grande parte do conteúdo sobre finanças em redes sociais não possuem o objetivo de educar. Como a intenção é manter o máximo de pessoas engajadas, compartilhando vídeos e postagens, o conteúdo não precisa ser o mais preciso do ponto de vista econômico.
Ao consumir conteúdo na internet, a maior parte das pessoas é movida por diversos sentimentos, os mais importantes neste caso são: prazer e otimismo.
Conteúdos que trazem alegria e fazem rir disparam boas quantidades de dopamina, entregando uma resposta de satisfação para o cérebro. Não à toa, dancinhas no Tiktok tornaram-se grandes hits virais. Apesar de bobas, trazem essa curta descarga de prazer que agrada bastante nosso cérebro.
Esse prazer rápido e intermitente faz com que você continue ali, passando a linha do tempo infinita na espera do próximo vídeo que vai ativar as partes certas do seu cérebro. É como um dependente químico reage à substância. Quanto maior o prazer e menor a duração dessa sensação, mais fácil é viciar.
Não é à toa que chamam o Tiktok de “cocaína digital”.
Já o otimismo funciona — também estimulando prazer — de uma forma um pouco diferente, criando um forte senso de esperança e propósito. É importante que o espectador acredite ser possível e que continuar consumindo aquele material tornará seu sonho ainda mais real.
Dizer que “ficar rico é uma questão de escolha”, ou que “é possível ficar milionário ganhando salário mínimo guardando 10 reais por mês”, traz muito mais estímulos cerebrais positivos do que explicar que o objetivo principal deve ser construir uma reserva de emergência e, só esse primeiro passo, pode levar uns 10 anos.
Quando você traz a coisa para o mundo real, tudo fica difícil e muito distante. É mais eficiente, para o engajamento do criador de conteúdo, incentivar a colocar R$ 10 numa ação fracionada e sair por aí dizendo que está investindo na bolsa.
O objetivo não é ensinar lições sobre finanças, mas manter a pessoa voltando ao canal todos os dias.
É por isso que essas regras de finanças que foram surgindo aos montes, mesmo as que são perigosas ou não fazem sentido prático, são tão tentadoras e atraem tanta gente.
O que trago aqui são princípios da economia que funcionam bem para o contexto onde estou inserido, mas que independente disso, são importantes para ter em mente ao analisar suas próprias finanças.
* * *
1. É melhor não ganhar nada, até perder um pouco, do que perder tudo tentando ganhar muito.
Um dos mandamentos da educação financeira de Youtube, é que se você está deixando dinheiro na poupança, está perdendo dinheiro.
Essa afirmação vem de uma noção que faz sentido matemático, mas que no mundo real as variáveis deixam as coisas um pouco mais confusas. A ideia de que números não mentem e a matemática é suprema, é utilizada para convencer pessoas leigas a aceitar um argumento sem questionar.
Números mentem o tempo todo. Pior ainda, o jeito mais fácil de enganar alguém é com uma matemática simplificada e que não consegue absorver toda complexidade do mundo real.
É claro que se você pensar que a inflação acumulou 9% nos últimos 12 meses, e a poupança rendeu apenas 5%, seu dinheiro ainda desvalorizou 4%. Neste cenário, eu poderia dizer que o índice Bovespa acumulou 3,5% de alta apenas nos últimos 5 dias, sendo assim muito mais atraente do que a poupança.
Estes números são todos fictícios, apenas para ilustrar como funciona o argumento.
Acima, se observarem, a matemática está certa e faz todo sentido, mas eu manipulei a fatia de tempo que estou me referindo apenas para que coubesse na narrativa. A alta do índice Bovespa nos últimos 5 dias pode, de fato, acumular esse percentual, mas o acumulado semestral por exemplo, pode estar em 10% negativo.
Quando apontamos essas questões, os econocoaches acabam dizendo que “é só você saber a hora de comprar e vender para não perder dinheiro”, o que faria sentido se houvesse um calendário infalível de quando índices e ações sobem e descem, mas isso não existe. Quando a bolsa cai, você só fica sabendo quando é tarde demais.
Esse mesmo modelo de argumento é aplicado para todo tipo de investimento que promete render mais do que usar a poupança ou deixar dinheiro parado numa conta corrente. Foi assim que muita gente perdeu dinheiro com esquemas pirâmide, criptomoedas e, agora, se afunda nas apostas esportivas
Mas quando a gente pensa em todas essas variáveis, temos que olhar pela ótica do longo prazo. Não importa quanto rendeu a bolsa no último mês, nem no último ano. Mas qual o consolidado em 5 anos? 10 anos? 20 anos?
Normalmente, a gente descobre que tentando ganhar muito, as pessoas acabam perdendo ainda mais do que se tivessem optado pela escolha mais segura e teoricamente menos lucrativa.
O que precisamos pensar quando estamos diante de algo muito arriscado, é que ganhar dinheiro é sempre mais difícil do que perder.
Ganhar dinheiro é sempre mais difícil do que perder.
Por isso o foco principal é evitar o máximo de risco possível para preservar o que conquistou, aceitando até perder um pouco com a inflação, em vez de aceitar o risco e perder quase tudo.
2. Melhor do que ganhar, é não perder
O melhor exemplo que temos para entender esse princípio, é observando o que aconteceu com as criptomoedas, principalmente a Bitcoin.
Quando vimos o primeiro salto que a BTC deu no final de 2017, todos começaram a se lamentar por não terem acreditado nas criptomoedas. Eu mesmo sofri com isso. Comecei a pesquisar sobre o assunto lá em 2012 e vi a moeda valendo algo próximo de 5 reais.
Quando um Bitcoin chegou ao valor de 20 mil dólares, era impossível não fazer um cálculo básico de multiplicação e acreditar que esse dinheiro teria resolvido a minha vida.
Obviamente, não fui o único que fez essa conta.
Histórias de pessoas que ficaram muito ricas com criptomoedas começaram a se espalhar.
Em pouco tempo, todo mundo já tinha ouvido falar que o Bitcoin era uma grande oportunidade de enriquecer. Essa fama fez muita gente correr para comprar o ativo enquanto ainda estava subindo, até algo acontecer e o valor despencar.
Assim, um exército de pessoas que comprou no ponto máximo da alta histórica, perdeu grande parte do dinheiro que apostou. Alguns até esperaram meses na expectativa de recuperação, mas quando enxergaram que levaria anos para retomar o patamar anterior, venderam para tentar minimizar o prejuízo.
Fenômenos assim estão presentes em todas essas possibilidades de alto ganho que se espalham por aí. Há alguns anos todos achavam que encontrariam a nova MGLU3 e ficariam ricos. Garimpar empresas que poderiam repetir o feito se tornou o objetivo de muita gente.
Na aura das criptomoedas, também surgiram os NFTs, com valorizações exorbitantes, joguinhos que “rendiam” dinheiro e muita expectativa movida por notícias de transações milionárias.
O imaginário das pessoas é movido por notícias pontuais de pessoas que ficaram ricos de forma quase instantânea. Todo mundo acreditando que se aconteceu com uma pessoa, também vai acontecer com ele.
Assim, um pequeno grupo ganha muita grana, e todo resto apenas assiste suas economias virarem pó.
O NFT do primeiro post feito pelo fundador do Twitter, comprado originalmente por 2,9 milhões de dólares, foi colocado à venda por 48 milhões, mas tempos depois teve o lance máximo de apenas 280 dólares.
Muitas decisões erradas são tomadas com a intenção de “aproveitar uma grande oportunidade”, mas como tudo é sempre vendido como certeza, as pessoas investem mais do que deveriam, acreditando que aquela grana terá um rendimento astronômico.
Quando tudo entra em colapso, a pessoa perde o pouco que tinha.
Resistir à tentação de ganhar muito, sabendo que para ganhar muito a chance de perder tudo também é alta, é um dos principais fundamentos que tento seguir.
Sempre que alguma possibilidade de enriquecer facilmente aparece, indiscutivelmente, alguns poucos já ganharam o que tinham para ganhar e todo mundo dali para frente perde quase tudo o que investiu.
Ganhar dinheiro é difícil, demora bastante e depende de inúmeros fatores.
Se parece fácil, desconfie.
Podemos até sentir que somos idiotas enquanto todos estão “aproveitando” a oportunidade do momento, mas quando a conta chega, você fica aliviado de não ter participado do surto coletivo.
3. Eu ganho mais trabalhando do que investindo
Faz alguns anos, um amigo vendeu o carro e colocou a grana num desses fundos de investimentos.
Na época eu sabia pouco sobre o assunto, e como eu estava ferrado de grana, para mim o montante que ele aplicou era bem impressionante.
Depois de quase um ano, perguntei como estava o investimento para entender o quanto havia rendido.
A resposta dele mudou completamente a forma como eu enxergo investimentos:
- e aí? como ficou aquele dinheiro investido? rendeu quanto?
- 2,78
- dois mil setecentos e oitenta?
- não, 2 reais e 78 centavos.
Nessa época o Startup da Real estava começando a ganhar tração, eu tinha criado a newsletter através do Patreon e estava entrando uns 90 reais por mês.
Não era um dinheiro alto, me ajudava apenas a pagar uma conta de luz ou coisa parecida.
Mas eu entendi que, com pequenos trabalhos que não me geram uma grande fortuna, mas também não exigem tanto esforço, era possível ganhar mais do que gastando tempo para estudar sobre investimentos e acompanhar a variação do mercado, arriscando uma quantidade razoável de dinheiro.
Desde então, todo meu estudo sobre investimentos foi puramente para saber como funcionam. Cheguei a colocar uns trocados na bolsa e fazer algumas operações para entender como se sente a pessoa durante este processo.
Fui criticado inúmeras vezes, durante todos esses anos, sempre que respondia na caixinha que eu não invisto meu dinheiro, deixo guardado numa poupança e foco apenas nos meus projetos pessoais.
Posso falar com toda segurança do mundo, nenhuma das pessoas que conheço e investem na bolsa tiveram lucratividade maior do que meus projetos pessoais ao longo desse ano.
E nem falo do meu salário, só do dinheiro que faço por fora.
É claro que, quando meu montante guardado crescer ainda mais, a necessidade de encontrar um lugar que mantenha esse dinheiro valorizando um pouco mais começa a fazer diferença.
Quanto maior o montante parado, maior a perda provocada pela inflação, assim como o retorno absoluto pela rentabilidade.
Mas enquanto essa não é minha realidade, eu sigo apenas pensando que eu ganho mais fazendo pequenos projetos por fora, do que 99% das pessoas ganha com investimentos.
Por isso, dedico 99% da minha energia para trabalhar e 1% do tempo entendendo como não perder esse dinheiro em promessas milagrosas de investimento.
4. O segredo está na opcionalidade
Quando digo tudo que está ali em cima para alguém que tem interesse em investir, a primeira reação é de espanto.
“Como assim? você está dizendo que eu não devo investir? E todos os ricos e famosos falando de investimentos por aí?”
A verdade é que investir pode ser muito importante, mas é preciso entender que a prioridade deve ser preservar o que foi construído, não a busca por um ganho exorbitante de dinheiro.
Você ganha dinheiro trabalhando e usa investimentos para tentar preservar o que conquistou.
Como influenciadores e coaches de finanças ganham quando vendem possibilidades irreais, rapidamente a lógica dos investimentos foi distorcida.
Antigamente, ninguém pensava em retorno antes de 10 anos. Cinco anos ainda era curto prazo.
Surfando em grandes altas muito específicas, e em exemplos como o das criptomoedas, o discurso rapidamente se transformou na busca rápida pelo primeiro milhão. O que importa é o enriquecimento rápido e acelerado através dos investimentos.
Mas isso não acontece e nunca aconteceu.
Só que, é claro que existem boas oportunidades que podem não nos deixar ricos, mas permitem aproveitar um retorno um pouco maior.
Existem oportunidades vantajosas por ai.
Mas como identificar quais tipos de investimentos podem ser vantajosos?
Uma das lições mais valiosas que aprendi lendo Nassim Taleb foi o princípio de opcionalidade.
A ideia é explorar assimetrias que permitem abordar oportunidades baseando-se não na possibilidade de ganho, porque ela nos ilude, mas pela relação de risco envolvida entre ganhar e perder.
Eu tenho um texto abordando esse princípio de forma bem detalhada, mas aqui simplifico:
Opcionalidade é organizar seu risco de forma que, se perder, perde pouco, mas se ganhar, ganha proporcionalmente muito.
Imagine que você está no shopping e precisa comprar um tênis.
Dentro da loja você encontra, por 500 reais, exatamente o que estava procurando. Antes de comprar, você manda uma mensagem para o seu amigo perguntando se o preço está bom.
Seu amigo responde que viu o mesmo tênis por 200 reais numa outra loja, no centro da cidade, um pouco afastado dali.
Aqui surgem duas opções:
Você pode comprar o tênis agora e gastar 300 reais a mais, ou investir tempo e recurso para ir ao centro e economizar essa grana. Mas ainda existe algum risco, como a chance de ir ao centro e não encontrar o tênis pelo valor promocional.
Neste cenário, se você for ao centro e encontrar o tênis pelo preço mais baixo, o ganho é grande. Mas se não encontrar, terá apenas que voltar ao shopping para comprar pelo preço que já estava lá.
Se ganhar, ganha muito — 300 reais de economia. Mas se perder, perde pouco — Tempo e gasolina.
Essa é uma forma de “investimento” que faz todo sentido.
Escolhi a palavra investimento apenas de forma ilustrativa, para conectar o exemplo ao assunto das finanças, mas a ideia central de arriscar pouco mirando num ganho proporcionalmente alto, se aplica para todo horizonte dos investimentos.
É possível usar essa lógica para avaliar o melhor momento de comprar câmbio para uma viagem; quando optar por um tipo de investimento mais arriscado; até para curtir uma aposta esportiva de forma mais segura; ou simplesmente decidir se vai deixar o dinheiro na poupança ou no tesouro direto.
Neste último exemplo, muita gente acha que tesouro direto sempre ganha porque considera apenas a rentabilidade potencial do longo prazo, no entanto nem todo valor é monetário.
A perda de liquidez é um risco real e traz consequências que, no fim podem ser convertidas em prejuízo.
Considerando que a maioria das pessoas acaba precisando do dinheiro mais rápido do que imagina, resgatar o dinheiro antes do vencimento, caso surja algum imprevisto, significa perder uma boa quantidade do dinheiro investido.
Na tentativa de evitar uma rentabilidade baixa demais, acaba saindo no prejuízo.
A alternativa ao resgate precipitado seria um empréstimo para atravessar o período de dificuldade. Obviamente os juros de empréstimos são maiores do que a possível rentabilidade, também representando prejuízo.
5. Não existe dinheiro fácil
Faz alguns dias entrei no carro de uma amiga e estava tocando um podcast.
Era uma mulher contando que o marido havia sido enganado por uma moça e teve seu cartão clonado, causando enorme prejuízo.
Segundo ela, o marido estava num bar quando foi abordado por uma moça muito bonita. Ela puxou papo, perguntou se estava sozinho e sentou-se à mesa. Depois de beberem um pouco, a moça sugeriu que fossem para um local mais reservado.
No motel, usou uma massagem erótica como desculpa para cobrir os olhos do rapaz com uma venda.
Entre uma massagem e outra, ela pegou o cartão de crédito no bolso da calça e guardou em sua bolsa.
Mais de 10 mil reais de prejuízo.
Sempre que ouço histórias assim eu fico me perguntando em que mundo esses caras vivem.
Talvez seja apenas minha experiência pessoal, porque sei que não sou o cara mais bonitão que tem por aí, mas as chances de uma mulher bonita chegar na minha mesa, do nada, depois me convidar para ir ao motel, é menor que zero.
Isso nunca, em nenhum cenário normal, vai acontecer.
A não ser — obviamente — que seja um golpe.
Essa é a mesma lógica que devemos aplicar para todo tipo de esquema financeiro.
Ninguém, no mundo, vai te oferecer dinheiro do nada.
- Apareceu alguém com um bilhete de loteria que não pode trocar, querendo te vender por uma quantia menor? É golpe.
- Pedindo ajuda com alguma coisa, mas precisa de uma grande quantidade de dinheiro confiar em você? É golpe.
- Oportunidade de negócio incrível, mas você precisa pagar só o treinamento e comprar alguns produtos para revender? É golpe.
- Empréstimos com juros muito baixos pedindo um pagamento de taxas antecipado? É golpe
Da mesma forma, não podemos confiar em produtos na internet com preços muito abaixo do normal, imóveis e terrenos muito baratos ou qualquer oportunidade de ganho muito alto e que fuja completamente do que é comum.
Você pode até perder uma boa oportunidade pensando assim, mas vai se proteger dos riscos de cair num golpe.
Se a gente estimar que chances de uma oferta como essas ser um golpe é de 99%, para cada oportunidade real que você perde, são 99 golpes que evita.
Claro que o número não é exatamente esse, mas é necessário lembrar que golpes são bem mais freqüentes do que ofertas excepcionais.
Mesmo que você dê a sorte de encontrar algo muito bom, no longo prazo o prejuízo acumulado ultrapassará qualquer ganho possível.
6. Prometeu mais que 3% ao mês? Golpe.
Muita gente fica indignada quando eu digo isso.
Na última vez que eu disse isso no Instagram, recebi um monte de mensagens raivosas de gente falando que “é fácil achar até investimentos que pagam facilmente 7% a.m”, sem o menor critério de avaliação.
Fosse simples assim garantir 3% a.m, bastaria juntar 100 mil reais, esperar esse dinheiro render e coletar R$ 42.576,09 ao final de um ano.
Aí você divide esse lucro por 12 e tem um salário de 3.500 reais por mês.
Desde que você não mexesse nos 100 mil iniciais, teria um salário garantido para sempre.
É óbvio que investimentos não funcionam assim e rendimentos nessa proporção costumam ser muito mais difíceis de alcançar com essa previsibilidade e consistência.
Antes de tudo, para não ser muito radical, talvez esse princípio deva ser reescrito como:
Promessa de rendimento garantido é indicador de golpe.
Essas promessas de rendimento são utilizadas, com muita frequência, para soar como um linguajar técnico e especializado, ao mesmo tempo que gera credibilidade para quem não está acostumado com esse tipo de informação.
Observe como 3% ao mês é um rendimento que soa completamente plausível.
Afinal, nem parece um número tão alto.
Você só entende o quanto uma afirmação como essas foge da realidade, quando começa a analisar números reais e comparar com outras formas de investimento.
O exemplo dos 3% ao mês, quando calculamos o acumulado em 12 meses, chegamos aos incríveis 42,5% ao ano. Para os menos treinados, isso pode parecer um número possível, mas comparando com qualquer outra forma de rendimento, é absurdamente alto.
Só para trazer um padrão comparativo, o acumulado do Ibovespa nos últimos 12 meses é de 5,89%.
Você acredita mesmo que alguém estaria com dinheiro na bolsa, se fosse fácil assim garantir 3% ao mês em qualquer outra modalidade, sem riscos?
É nessas horas que surge alguém dizendo:
“mas eu já vi investidor que conseguiu percentuais maiores”
Sim, isso é verdade.
Por isso que a palavra “promessa” é importante quando escrevo este princípio.
Em outubro deste ano, o consolidado anual do Ibovespa estava em 10,69%, nada mal. O problema é que essas oscilações existem e são imprevisíveis.
Observar curtas fatias de tempo pode trazer valores viciados, e que nos afastam do que a realidade tem para mostrar.
Se num mês a alta foi de 8%, no outro pode vir uma queda de 7% e equilibrar a balança.
O problema são as promessas de lucratividade que parecem simples e plausíveis, mas fogem da realidade prática.
Warren Buffet, considerado um dos maiores investidores de todos os tempos, tem uma média de 9,40% anual acumulada nos últimos 30 anos.
Enxerga agora a dificuldade de bater aquelas promessas?
Existe um jeito ainda mais claro para entender como esses essas promessas fogem da realidade.
Só para exemplificar, simulei empréstimos nos dois bancos que utilizo:
O Nubank me ofereceu uma taxa de juros de 3,38% ao mês. Já no Itaú, eu disse que tenho um imóvel para oferecer de garantia e recebi uma taxa de 1,66% a.m.
Agora pensa comigo: se eu tivesse um investimento garantindo 3% a.m, poderia simplesmente pegar o empréstimo do Itaú, pagar com os rendimentos e ainda me sobraria um lucro.
Daria para fazer “dinheiro infinito”, investindo o dinheiro do banco, pagando o empréstimo e embolsando os lucros.
O mesmo seria válido para boa parte dos financiamentos e empréstimos que vemos por aí.
Se fosse tão fácil garantir rendimentos que ultrapassam a taxa de juros dos empréstimos, os próprios bancos estariam aplicando o recurso em outros lugares em vez de absorver os riscos de emprestar dinheiro para pessoa física.
Novamente, isso não significa que investimentos não consigam trazer uma rentabilidade percentual mais elevada, o que eles não conseguem, normalmente, é garantir esses percentuais.
Até mesmo em investimentos confiáveis e que prometem alguma rentabilidade com taxas prefixadas, essa promessa vem revestida de dois elementos: perda de liquidez e compromisso de longo prazo.
Se precisar tirar o dinheiro antes do vencimento, você sai no prejuízo.
Curiosamente, tentei pesquisar dados percentuais sobre pessoas que cumprem o período exigido pelos investimentos de renda fixa ou que acabam precisando retirar o dinheiro antes do prazo.
Infelizmente, não consegui encontrar essas informações.
Esses dados seriam interessantes para separar a expectativa de rendimento desses investimentos, e a realidade das pessoas que colocaram o dinheiro ali.
Não seria uma surpresa descobrir que a maioria das pessoas acaba tirando dinheiro antes do vencimento e assumindo um prejuízo.
Em meio a toda romantização e promessas exageradas que vemos nos conteúdos de finanças, fica muito complicado navegar pelas informações que encontramos.
Até mesmo pessoas que se orgulham de consumir bastante material sobre o assunto acabam presas nessa câmara de eco, que cria percepções irreais sobre as possibilidades de ganho oferecidas pelos investimentos.
Acredito que esses princípios que listei são uma importante forma de proteção contra golpes e, até mesmo, contra minha própria ambição.
Me ajudam a controlar o impulso de acreditar nessas promessas tão tentadoras.
Mais ainda, me ajudam a identificar potenciais riscos sem precisar me aprofundar no investimento específico, apenas conhecendo as características principais.
Reforço que nada disso aqui é uma lei imutável, e muito menos uma recomendação geral. É apenas como eu enxergo o universo dos investimentos e o que faço para cuidar do pouco dinheiro que consegui juntar.
Não sou um especialista no assunto e nem tenho pretensão de me posicionar como tal.
Isso tudo é apenas a minha visão muito pessoal.
E no dia que precisar de fato pensar sobre investimentos e montar uma estratégia, deixarei tudo na mão de um profissional competente e que saiba bem mais do que eu.
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