O mais difícil é continuar

Quando a empolgação passa é que o trabalho começa

Startup da Real
@startupdareal
Published in
5 min readJun 24, 2021

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Faz pouco mais de um mês que o Pedro, alguns de vocês conhecem como Numerofobia, foi convidado para escrever uma coluna na minha newsletter.

A decisão de convidá-lo foi recheada de motivos. Além de ser uma pessoa que conhece exatamente o método que uso para escrever, porque pude dar um treinamento sobre isso para ele, ele é alguém em quem reconheci a vontade de aprender a produzir conteúdo escrito para internet.

É preciso dizer que, antes do convite, eu nunca havia lido uma única linha de texto do Pedro, mas sabia que poderia contar com ele para produzir uma coluna por semana.

O primeiro texto veio rápido, antes mesmo do prazo já estava em minha caixa de entrada. O segundo seguiu a mesma linha, mas os trabalhos seguintes foram se tornando mais difíceis.

Isso não me assustou, pelo contrário, é quando essas dificuldades começam a aparecer que a gente aprende a escrever de verdade. E vejam que estou falando de escrita, mas este é um ciclo comum em qualquer atividade.

É muito fácil começar quando estamos empolgados. No primeiro texto que produzi para um veículo grande na minha vida, terminei com a certeza de que nunca mais escreveria uma linha. Tudo o que eu tinha para produzir já estava ali.

Seria necessário apertar muito para conseguir criar uma outra peça original.

Quando precisamos escrever com uma frequência muito grande, a sensação de que as ideias se esgotaram e que estamos repetindo a mesma construção de palavras é enorme. Mesmo quando encontramos um assunto novo, o resultado acaba soando sempre como se já tivesse sido escrito.

Pior ainda, quando olhamos para o lado parece que todo mundo já falou do que estamos falando.

Este é um sentimento que nunca passa, a gente só vai ficando melhor em não transmitir isso para os leitores.

Mas a verdade é que seja ao tocar um instrumento, começar uma atividade física ou aprender programação, os primeiros passos são fáceis. Quando somos movidos pela empolgação, tudo acaba saindo mais fácil.

Alguns números que estão circulando na internet sobre a desistência em podcasts podem nos dar uma luz sobre o assunto. Aparentemente 90% dos podcasts não passam do terceiro episódio, e dos que passam, 90% desistem antes da edição 21.

Mesmo que eu não tenha conseguido encontrar as análises cientificas por trás dessas afirmações — mas o texto linkado é bem legal — a tendência que essas afirmações apontam estão diretamente conectadas ao sentimento que eu vivenciei e acompanhei em outras pessoas e nas inúmeras atividades experimentei na vida.

Começar é fácil, o difícil é continuar.

Enquanto a maioria está preocupada em ser o melhor de todos logo de começo, quem de fato ganha alguma luz é quem sobrevive tempo o suficiente para ser notado.

Além disso, ser o melhor muitas vezes é um processo que envolve maturidade. Qualquer podcast é melhor no centésimo episódio do que foi na edição número 3. E mesmo que o autor ache que o episódio 100 tenha sido mediano, pode apostar que essa média ainda é mais alta que os melhores episódios do começo.

As dificuldades que enfrentamos para seguir em frente são exatamente os elementos que fazem cada nova tentativa ser ainda melhor.

Se existe uma frase, dessas bem motivacionais cafonas que eu costumo criticar, mas que assumi para a vida e garanto para vocês que faz muito sentido, é a afirmação de que 90% do sucesso é estar presente.

Claro que, como crítico, sei que essa afirmação não é precisa, mas a intenção por trás dela é muito verdadeira. As poucas coisas que conquistei na vida, e não que eu tenha um sucesso estrondoso em algo, foram assumindo essa postura.

A insegurança é um inimigo muito grande para a maioria das pessoas. Duvidar dos próprios resultados e da própria capacidade é um caminho comum para desistir da maioria das iniciativas, às vezes antes mesmo de começar, e mais ainda, depois que a empolgação passa e os resultados estão longe do que se parece um sucesso estrondoso.

Meus amigos na turma de Física tinham uma frase muito comum: “sair de casa para tirar zero, ou ficar em casa e tirar zero no conforto do meu lar?”

Lembro de um dia que acordei para a prova de física experimental e não tinha estudado absolutamente nada. Eu realmente sabia que estava saindo de casa para tirar zero.

Sentado na varanda de casa tomando um café, lembro de pensar exatamente na tal frase cliché.

Decidi que iria fazer a prova e ver no que dava, existia uma mínima chance de cair apenas a parte que eu sabia, o pouco que tinha aprendido sobre o assunto. Quando cheguei ao laboratório, o professor olhou para a turma e disse: “juntem com colega da bancada ao lado e façam duplas.”

O colega da bancada ao lado era o melhor aluno da turma, com uma das melhores notas do país no exame nacional de Física.

Tirei 10 nessa prova.

Tive essa mesma conversa com minha esposa quando chegou a hora de prestar a prova para residência de medicina. Recém formada, tivemos uma longa conversa sobre a insegurança dela e a importância de simplesmente estar ali, se fazer presente e ver no que dá.

Ela achava que não fazia sentido nem se inscrever na prova de residência. Seriam quase mil reais jogado no lixo e ela tinha certeza que não iria passar.

O que disse pra ela? 90% de tudo é se fazer presente. Vai lá e faz a prova, se não passar a gente vê o que faz depois. Ela fez a prova e passou exatamente na universidade que queria.

Estes são exemplos bobos, mas de uma atitude que tento seguir, sem ingenuidade, mas tento ter essa posição sempre em mente.

É o motivo de aceitar 99% dos convites para participar de podcasts, mesmo para podcasts que nem existem ainda. Já participei de gravações de 4 horas de programas que nunca foram ao ar.

É claro que isso não significa aceitar qualquer coisa ou sair fazendo tudo o que aparece, pelo contrário. É decidir uma direção e se esforçar para estar ali, faça chuva ou faça sol, seja bom ou seja ruim.

O resultado se faz estando presente todos os dias.

O Numerofobia ainda vai viver muitas fases diferentes na sua história como criador de conteúdo. Mas por enquanto, é preciso admirar a determinação de continuar escrevendo e produzindo textos de boa qualidade, sem nem pensar em desistir.

Toda semana ele respira fundo e está presente na minha newsletter.

Se eu pudesse reformular toda essa ideia de uma forma menos cliché, diria que o segredo é transformar nossos objetivos em jogos infinitos, onde o único objetivo verdadeiro é se manter no jogo.

Tá, talvez não seja tão menos cliché assim.

Este texto foi publicado anteriormente na newsletter Alt+Tab no dia 22 de junho de 2021.

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Startupdareal é autor do livro Este livro não vai te deixar rico, que aborda os bastidores do universo das startups, empreendedorismo e da busca pelo dinheiro. Livro está disponível em todas as grandes livrarias do Brasil ou através deste link.

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